28, Abril 2021
Quer ter uma vida mais ecológica? Inspire-se com o biólogo Ayala Botto
Ayala Botto cresceu ao mesmo tempo que crescia o seu fascínio pela natureza e hoje é educador no Centro Pedagógico do Jardim Zoológico. Gosta de proteger a natureza e de inspirar os outros a faze-lo através de diversas conversas em torno da temática ambiental, que vai promovendo nas suas redes sociais.
Ayala Botto cresceu ao mesmo tempo que crescia o seu fascínio pela natureza e hoje é educador no Centro Pedagógico do Jardim Zoológico. Gosta de proteger a natureza e de inspirar os outros a faze-lo através de diversas conversas em torno da temática ambiental, que vai promovendo nas suas redes sociais.
Enquanto biólogo e voz ativa no que toca à ecologia, em que ponto acha que a mudança verde se encontra?
Acho que já começou. O problema é que está muito lenta. Já há muito que ouvimos sobre alterações climáticas e todos os problemas que existem com o ambiente. No entanto, parece que enquanto o problema não nos bater à porta não mudamos nada. Agora já começa a haver uma maior consciência. Já começa a haver uma maior sensibilidade, também já se começa a alertar cada vez mais para os problemas, nomeadamente, do uso do plástico descartável, do plástico nos mares, da desflorestação, do degelo…. No entanto, ainda há muito por fazer. Felizmente, já começamos a dar os primeiros passos e estamos a ir por um bom caminho. Com o Green Deal e as preocupações a nível europeu e mundial, começam a existir regras, leis, para seguirmos um rumo mais sustentável.
Qual é a mensagem chave que considera que deve ser transmitida para tornar esta mudança bem-sucedida?
A solução passa por reduzir. Reduzir e repensar o nosso consumo. Precisamos mesmo de comprar tanto? Se calhar, não. A chave passa por aí, porque é importante retirar o menos possível de recursos à natureza e passar de uma economia linear para uma economia circular, em que a maior parte dos produtos que nós utilizamos voltam a entrar na cadeia de valor e não são descartados. É esta a educação que é preciso ser feita. Repensar o nosso consumo e mostrar que, com isso, não vamos perder qualidade de vida. Isto é outra ideia que se tem – a de que, ao sermos mais sustentáveis, vamos estar a perder o nosso conforto —, e não é isso que se quer, porque a longo prazo não funciona. Portanto, tem de existir esta educação ambiental e mostrar que é possível sermos mais sustentáveis comprando menos e mantendo o nosso conforto.
Quais considera serem os erros que as pessoas cometem do ponto de vista ambiental?
Não são erros conscientes e prendem-se muito com o consumo. O facto de comprarmos, por exemplo, um telefone novo, porque o outro se estragou. Queremos comprar novo, queremos melhor. Aqui, o ponto passa por reutilizar ao máximo o que temos e diminuir o consumo. Depois, o que consumimos também devemos fazê-lo de forma mais consciente, nomeadamente, a alimentação. Por norma, temos em quase todas as refeições carne ou peixe como proteína principal, quando a nossa dieta mediterrânea não diz isso. Temos de consumir proteína, mas a carne e o peixe representam uma pequena fatia. Só pelo facto de reduzirmos a quantidade de proteína animal já estamos a diminuir a nossa pegada ecológica. São pequenos erros que fazemos por cultura, por hábito. Não pensamos que se reduzirmos a quantidade de carne ou peixe ou se fizermos uma refeição por semana de base vegetal ou vegetariana já estamos a reduzir as emissões de CO2.
Na sua opinião, a pandemia e os novos hábitos a ela associados tornaram-se um ponto a favor ou contra o planeta, porquê?
A pandemia não veio resolver problema nenhum. Houve aqui “um respirar”, porque os transportes pararam, algumas indústrias pararam, houve muito menos emissões. Mas, os problemas continuam cá. Talvez tenha servido um bocadinho para alertar, porque passaram imagens de um planeta ilusoriamente mais recuperado.
No global, foi um ponto a favor no sentido em que as pessoas perceberam que precisam da natureza e que esta lhes traz algo de bom, traz calma, elimina o stress. Acredito muito que temos de conhecer e de gostar para proteger. E, se passarmos mais tempo com a natureza, vamos gostar mais dela, vamos querer protegê-la e procurar saber o que podemos fazer.
Por falar em novos hábitos, o Ayala tem realizado diversas conversas online sobre sustentabilidade; qual foi a conversa ou o tema que mais o marcou e em que mais aprendeu?
Aquelas conversas não são só para ensinar os outros, eu aprendo muito com elas. Há muitas coisas que são ditas e de que eu não tinha a menor ideia. Ali há uma troca de conhecimentos e os temas são muito variados, falei dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, alterações climáticas, moda, detergentes e aprendi um bocadinho com cada uma. Mas, se tivesse de escolher uma diria talvez a conversa sobre a hotelaria, a ligação entre um hotel e a sustentabilidade, as práticas que alguns hotéis adotam para serem mais sustentáveis. Havia muita coisa que eu não conhecia e nunca tinha pensado que fossem possíveis num hotel para se tornar mais sustentável a nível ambiental, social e económico. Porque a sustentabilidade não é só o ambiente.
Já inspirou alguém a adotar diferentes ações para se tornar mais sustentável também? Quem e porquê? Felizmente, sim. No meu Instagram, tenho tido imensos feedbacks de pessoas que me agradecem a informação que partilho e que dizem que nunca tinham pensado em determinado ponto de vista, ou nem sabiam de certa solução ou alternativa. Aquela página torna-se uma plataforma em que se partilha conhecimentos, porque eu posso fazer uma coisa de uma forma e outra pessoa fazer de outra que funciona melhor e o facto de partilharem comigo e de eu partilhar com todos pode ajudar muita gente. Também vou recebendo feedbacks de pessoas que vão fazendo pequenas alterações no seu dia a dia, por exemplo, que passam a comer mais vegetais ou que compram champôs sólidos e me dizem que mudaram ou que experimentaram.
Qual foi a última ação mais sustentável que pôs em prática?
Estou a acabar de construir um vermicompostor, mas ainda faltam as minhocas. Há várias outras ações que já implementei há muito tempo: andar de bicicleta, usar uma garrafa reutilizável para a água…. Mas a última coisa que implementei cá em casa foram os detergentes ecológicos.
Reduzir, reutilizar ou reciclar, qual é o R a que recorre mais vezes?
Sem dúvida, reduzir. Por exemplo, roupa. Não compro roupa, a não ser que esteja a precisar de algo. Reduzo no consumo de carne e peixe, porque a minha dieta é vegetariana. Não uso carro, ando a pé, de bicicleta ou de transportes públicos. Quando vou ao supermercado, opto, sempre que possível, pelo produto que está menos embalado. A chave é o reduzir e repensar o consumo. Perguntar se precisamos mesmo do que vamos comprar, se faz sentido comprar, porque, se calhar, não faz.
Apesar de reduzir ser o “R” a que dá prioridade, a reciclagem faz parte das suas rotinas?
A reciclagem faz parte das minhas rotinas desde sempre. Já devia fazer parte das rotinas de toda a gente. Todos deviam fazer, nem faz sentido de outra forma. Ao reduzir não se deixa de reciclar. São três ‘erres’ que funcionam em conjunto. Eu reduzo ao comprar o menos possível, uma vez que já comprei vou reutilizar diversas vezes até já não ser possível continuar e aí envio para reciclagem. Portanto, é algo sequencial. É preciso usar todos os ‘erres’.